terça-feira, 14 de julho de 2009

Quebra-cabeça completo

       Ele se sentia estranho. Não um estranho “novo”. Ele já havia estado ali. Um dia. Uma semana. Um mês. Mas por algum motivo, ainda doía. Cada visita lhe proporcionava um vazio diferente. Tinha Tudo presente em sua vida. Tinha a mais bela estrela de todas. Isso lhe proporcionava momentos únicos de felicidade. Sim. Podia-se dizer que era feliz. Mas as tristezas eram como montanhas em suas costas. 
       Às vezes sentia-se deslocado. Era Sol em meio a luas. Por mais próximo que pudesse estar, sempre haveria uma barreira que não poderia ultrapassar. Justamente a que ele queria. Então chorava. Não queria saber tudo, mas não queria perder nada. Chorava. Não queria ficar de lado, mas as circunstâncias faziam com que ficasse. Chorava. Não queria ser mais um, ou um, queria ser o. Não queria chorar, mas estupidamente chorava.
      Quando conseguia se sentir uma lua entre luas, ficava feliz. Sorriso besta que se arma com a mais singela demonstração. Algo pouco importante a olhos nus, mas de suma para quem preza. Um sorriso. Um olhar. Uma palavra. Um gesto. Um abraço. Um beijo. Um pedaço a mais que faltava no quebra-cabeça. Pedaço esse que automaticamente se exclui, por razão nebulosa, ou que é excluído por razão inconsciente e incerta. Num repente e tudo volta ao cinza. 
       Questionava por que não conseguia ser plenamente feliz. Sempre recebia de Tudo, tudo o que precisava. Um abraço, um porto-seguro. Sempre tinha a estrela ao seu lado, caminhando indefectivelmente pela escuridão em volta. Sempre teve sorrisos. Uns gerados por ele, outros por ele roubados. Sempre teve amor. Nunca teve satisfação. Nunca estivera cem por cento satisfeito. Nunca se achava completamente feliz. 
        Poderia ele ser cem por cento feliz? Ele sabia a resposta. Nasceu para chorar, sorrir e chorar. Sabia que estava fadado a viver com peças sobrando no quebra-cabeça. Peças que queria ver figurando a obra maior. Peças que não queriam sobrar mas caminhavam por esse caminho. Peças que, no fim das contas, não sobram. Só se postam em um lugar indefinido do quebra-cabeça.  

7 comentários:

  1. Rodrigo, você me surpreendeu. Esse texto é diferente dos outros. Muito bom. Gostei de cada palavra sonora.
    Um beijo

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  2. Cara, gostei muito... O contraste, a meta estipulada para se ter a felicidade, mesmo sabendo que nunca chegará aos devidos 100%!
    O que de fato todos nós estamos "A procura da felicidade"!

    Muito bom
    abraços

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  3. Parece uma escritora ai, Kelly Nery... nums ei pq, vc me lembrou o jeito de escrever dela...
    hauahauahauha

    mto bom amor... apesar de ter me dado um susto...
    mto bem escrito, e como disse Luiza, mto sonoro.

    Perfect

    bjinhus

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  4. Muito bom, os seus textos são como um "escape" desse mundo! parabéns preto =)

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  5. Esse texto é o do tipo que supera espectativas...vc começa lendo pensando que vai encontrar uma coisa, derrepente o enredo muda(na nossa mente é claro!) e quando você menos espera o que o autor quer dizer não é nada do que você esperava ler, mas um tanto interessante que te prende até a última palavra...


    ________

    Será que esse cara que se sentia estranho num lugar onde ele já havia estado estava numa pescaria? Ou quem saeb numa caça com o namorado de uma amiga?

    De qualquer forma gostei do que li Rô!!!










    (desculpe, eu não consigo chegar ao 100% sério!!)

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  6. Você está deixando os textos de estilo jornalísticos e caminhando para os, como dizer, mais sentimentais, rebuscados, (literários?), é?
    haha Muito show!

    "Era Sol em meio a luas." hey, adorei a metáfora!
    mas, particularmente, acho bom ser Sol entre Luas! x)

    see you

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  7. É bem assim que a vida flui nesse rio que somos nós néah mesmo Rodrigo? Sempre me acho meio deslocada, e nunca estou plenamente feliz... Me identifiquei muito com esse texto seu XD

    Essa intensidade nas palavras que ao mesmo tempo são suaves, enfim... Bela!

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