segunda-feira, 7 de maio de 2012

Para sempre Lua


A Lua pairava soberana no céu. Seu costumeiro tom cinza escuro trazia aos noturnos tranquilidade e paz. A noite estava calma. Não havia vento, gritos, música ou choro. Havia apenas um casal, sentados em uma clareira em meio ao verde. No horizonte, a Lua lhes proporcionava o clima de romance. Cheia, redonda e cinza. Lara lhe disse uma vez que, por vezes, a Lua brilhava quando estavam juntos. Talvez fossem só seus olhos ao olhar para Theo. Fosse o que fosse, ele gostava de se sentir aquecido pelas palavras de Lara. Muitas fizeram o mesmo. Mas “muito” é uma questão de perspectiva e, geralmente, não é o bastante...
“Quando partir, vou para a minha casa no campo. Não quero o céu. A Lua soa muito mais paradisíaca...” Ela costumava dizer. “(...) e te espero lá, o tempo que for” Ela dizia. “(...) porque não há Lua sem você” Ele queria ouvi-la dizer mais uma vez. O tempo foi cruel e abreviou-lhes a felicidade. Desde então, Theo dorme nos dias de Lua cheia e passa a noite na clareira. Esta parecia muito maior e agitada agora. Ventos fortes, música, seu choro...
Em uma manhã qualquer, conversou com Baltóscri Nóloc na volta pra casa. Baltóscri era um sonhador sensato. Não cria em amor eterno ou paz mundial. O leão, a ovelha e o homem. Entretanto, tinha uma teoria que todos julgavam insana: dizia que o mundo era plano. Afirmava haver, de fato, um “fim do mundo” – e acreditava ser nos arredores de Vladvostok. Quando esperava mais uma risada para se juntar ao coro, Baltóscri viu um sorriso. Theo agradeceu ao homem e disse que tinha que ir. Quando Baltóscri perguntou-lhe para onde, Theo respondeu: “à Lua”.
Theo armou-se de corda, escada e esperança e começou sua caminhada. Havia certo conforto em acreditar que o mundo era plano. Nunca estaria ali de novo. Sempre em frente. Entretanto, encontrava nas lembranças conforto. Fosse ainda criança, deitaria em sua cama e pediria à sua mãe para lhe acordar quando setembro acabasse. Com outubro vinham cores. Agora ansiava pelo cinza, onde seu sorriso residia.
Theo caminhou pelas mais diversas paragens. Viu um mundo que nem sua imaginação descreveria: um céu verde e púrpura; uma estrada amarela; olhos de todas as cores e profundidades; sonhos que são largados por aí. Mas havia muito não via a Lua. Começou a questionar-se e, talvez, fosse hora de se perder de volta pra casa.
Naquela noite sonhou com Lara. Nada foi dito. Estavam deitados na relva, sentiam o vento frio da noite que os forçava a se apertar o quanto podiam. Ele queria. E nunca mais deixá-la ir. Quando acordou, Theo sentia Lara por perto. Alguns sonhos são tão tangíveis quanto a realidade, por isso são tão impactantes. Fazem rir, chorar, doer, amar, sentir, voltar... Nada mais são do que realidades possíveis encenadas por memórias que (não) temos. Theo sentia-se renovado para continuar a caminhada.
Theo viu mais de quinhentas luas cheias passearem no céu até que finalmente chegou ao seu objetivo. Seu coração minguante, de prazo quase expirado, borbulhou. Ela estava bem à sua frente. À sua espera. O cinza que ansiava ao toque da mão. O peito apertando, quase explodindo de tanta felicidade. Theo estendeu uma das mãos para alcançá-la, levou a outra ao coração. O sorriso lhe tirava o ar. Seus olhos brilhavam como nunca antes e suas mãos estavam trêmulas. Centímetros. A visão lhe falhava, ou seriam as lágrimas? A ponta de seus dedos há um coração de distância. Não estavam esticados. Carícias se fazem com dedos relaxados. Quando alcançou, finalmente, suspirou. Todos os pelos de seu corpo eriçaram e o mundo lhe fugiu. O cinza substituído pelo nada...
Baltóscri caminhava sozinho. Pensava se estaria certo com toda essa loucura. Talvez o mundo não fosse plano e estejamos todos presos aqui. Chegou a uma clareira que não se recordava ter antes visitado, mas gostou. Parecia que a noite ali era sempre calma. Sem vento, gritos, música ou choro. Olhou para o céu e sorriu espantado. A Lua brilhava branca e intensa como nunca antes. Estava maravilhado. A Lua inspirava apaixonar-se. Era como ter uma primavera por mês. Depois de um suspiro que quase não lhe coube, Baltóscri olhou mais uma vez para a Lua branca e disse satisfeito. Mais do que nunca, a Lua era dos apaixonados.