quarta-feira, 11 de março de 2009

Personalidades e pessoas


          A teoria de dupla (ou múltipla) personalidade é razoável e possui bases teóricas inquestionáveis. Será? Eu não acredito em duas personalidades em uma pessoa. Eu acredito em muitas pessoas dentro de um corpo.

          Vejamos Fernando Pessoa, o exemplo mor do assunto em questão. Ele não possui personalidade múltipla, e sim identidades múltiplas (os famosos heterônimos). O que diferencia este homem que criou inúmeras pessoas diferentes para "incorporar" de uma pessoa normal? Não muita coisa.

          Tomemos por exemplo você mesmo, leitor que dedica uma fração de seu tempo para este artigo, você é a mesma pessoa todos os dias? Você é o mesmo de quando você era criança? Você é o mesmo quando está apaixonado? Estressado? Ou mais importante ainda: Você acredita que isso se trata apenas de desenvolvimento humano ou mudanças de humor/estado de espírito?

           Eu quando estou irritado me torno uma pessoa extremamente agressiva, no entanto bem mais observador. Um "au" a mais que o cachorro solta me deixa pra explodir. Fico ainda impaciente com o tempo. Este é meu algoz e dana de nunca passar. Por outro lado, quando estou feliz, aflora o Rodrigo atencioso e paciente, que quer aproveitar o dia ao máximo, pois cada segundo se torna o mais importante da minha vida.

            Como os heterônimos de Pessoa, meus "Rodrigos" também apresentam gostos bem peculiares. O Rodrigo bem-humorado ama ler. O Rodrigo irritado prefere correr. O Rodrigo apaixonado se acha na poesia, e o magoado, também. 

          Mas aí você leitor me questiona: mas isso são características, gostos que são inerentes a você e suscetíveis à mudanças de humor. E eu te pergunto: Você acredita que Pessoa não tinha disso também?

          Não digo de humor. Mas achar que Pessoa não gostava do campo, apenas Caeiro, como isso? Caeiro era Fernando Pessoa e vice-versa. Durante a rotina do dia-a-dia nós temos que assumir diferentes papéis: A Kelly do trabalho é diferente da Kelly de casa; A Lívia da reunião com os amigos é diferente da Lívia assistindo o jogo do Vasco. E isso, essa rotina massante do fazer constante, nos faz não só incorporar novos, ou diferentes, comportamentos. Acabamos por criar novas pessoas. Nem que a pessoa queira ela muda no trabalho. Podem ocorrer leves mudanças, mas a essência é a mesma.

          Outro exemplo bastante comum que é conveniente utilizar neste momento é o auto-diálogo. Dúvido que você nunca tenha conversado consigo. Segundo o esquema comunicativo, tão famoso na linguística, pra haver comunicação tem de haver dois enunciadores. E se você for os dois, você acredita que a Thamiris que escuta é a mesma que questiona? Se fosse não haveria conversa, questionamento ou conflito.

          Agora, relendo este post, eu mesmo me pego em conflito com os "eus" em mim. Uma parte de mim acha bobagem postar isso, a outra acha interessante.

          Não vejo esse interior interpenetrado por turbilhões de identidades como um mal. Afinal, do caos nasce a ordem. Dos muitos "eus" em mim nasce o Rodrigo inteiro. Por isso digo: Não sou um de várias maneiras! Sou muitos em um só. Sou simplesmente eu e os muitos de mim.

          Nada melhor para terminar este post como as palavras do próprio Fernando Pessoa:
"Eu que me aguente comigo
  E com os comigos de mim"
  E, em meio a essa multiplicidade, penso eu:
  Pensar no eu.
  Mas quem, verdadeiramente, sou eu?
  Eu sou um...
  Eu sou um em um milhão.
  Eu sou um milhão."

 

quinta-feira, 5 de março de 2009

Coisas que me irritam em narrativas clássicas



Resolvi escrever sobre coisas que me irritavam. Mas diante da iminente infinidade de coisas irritantes que esse mundo me proporciona, decidi ser mais específico. Restringindo essa abordagem “irritacional” ao âmbito das narrativas, notei que, mesmo assim, minha lista não é muito pequena.

Devo reconhecer que alguns dos elementos aqui citados são importantes para algumas narrativas, mas em casos mais gerais inevitavelmente irritam o sujeito.

Donzelas em perigo


As donzelas em perigo são ícones das grandes narrativas, desde quando esta se entende por gênero literário. É lindo, realmente, ver o mocinho enfrentar forças impossíveis de serem vencidas para resgatar a amada. Mas isso cansa!
 Por que um homem não pode ser seqüestrado por uma bruxa maníaca gostosa que vai trancar ele numa torre e mandá-lo ficar fazendo bordado eternamente? Por que o homem não bebe a lata de cerveja envenenada pela sogra?
 Nesses casos, por que a mulher não assume a posição de macho e vai salvar o mocinho? As mulheres lutam por igualdade, então por que não trocar os papéis? Deixa o mocinho dormindo enquanto a donzela acaba com a bruxa má e o dragão imenso? Isso me irrita.

Inimigos impossíveis e soluções inimagináveis


 Grande parte das narrativas de aventura tem essa característica. Existe um guerreiro invencível, o orgulho do povoado/nação/qualquer coisa. No começo esse guerreiro é desacreditado, e se torna amado da noite pro dia, quando resolve algum problema grande. Mas depois do problema é que vem a questão.
 Imaginemos um gladiador que surge do nada, ganha torneios e se torna um ícone. De repente surge a notícia de uma invasão no condado, quem poderá nos defender? (além do Chapolin). Justamente o herói. Mas o exército que vai invadir o condado é imenso, ou tem um dragão de sete cabeças. Como um homem mata um bicho desses? Simples, ele simplesmente pega a espada de Glinglow, no reino de Lofobis, com a guardiã da Lasagna. Isso definitivamente me irrita.

Escolhidos

Os escolhidos são sensacionais. Adoro o Neo, por exemplo. Um cara comum que vira o salvador da Terra. Mas e quando esse escolhido é um completo banana?
Os príncipes da Disney são meus alvos favoritos. Pra ser o herói da história você só precisa ser príncipe, bonito, determinado e branco. Está aí outro questionamento: por que a Disney nunca fez um filme com o príncipe da África resgatando a princesinha? (me antecipando a contra argumentos, me pronuncio de ante-mão: O príncipe do Egito não é preto!).
 E como eu digo que esses príncipes são bananas? Bem, analisemos o príncipe da Cinderela: se aparece outra mulher com o pé 37 ele casa com a mulher errada.

Por que alguma personagem que a gente gosta tem que morrer?

 Isso sempre acontece comigo! Eu estou lendo um romance e um dos personagens que eu mais gosto morre. Por quê? Nunca fui de gostar de protagonistas, gostei mais do coringa no Batman, e gosto muito mais do Shiryu do que do Seya em Cavaleiros do Zodíaco. 
 O que me dá mais raiva ainda é quando matam alguém que eu gosto no romance sem necessidade. O autor tem todo um trabalho para montar uma personagem, você começa a se identificar com essa personagem, e o autor vai lá e mata ela. Quando a morte dela desencadeia algo na trama, tudo bem. Você que abaixe a cabeça e se conforme. Mas quando a morte dele só serve pra diminuir o elenco, aí eu fico por conta.

Gêmeo/gêmea do mal


 Manifestação mais comum nos gêneros novelescos globenses ou sbterianos, este elemento é o que, sem sombra de dúvida, mais me irrita. O pior é que ninguém se toca que é a coisa mais cafona do mundo. Geralmente são duas mulheres: uma extremamente boa e a outra é a trainee do capeta. 
 A gêmea do mal sempre finge ser a do bem para enganar alguém. O grande problema é: se ela consegue fingir que é do bem como a gente sabe qual gêmea perdeu?
No fim da novela, a gêmea má vai presa e a boa fica com o Fábio Assunção. Mas e se for a gêmea má se fingindo de boazinha? Definitivamente, gêmea do mal é “LAMENTÁVEL” (SILVA, 2007 p.: início da UERJ – tempos modernos).

terça-feira, 3 de março de 2009

O que nos separa dos vampiros?



Bem, não é segredo pra ninguém que eu adoro vampiros. Então meu primeiro post não poderia ser sobre outra coisa. Mas pensando bem, o que nos difere deles?


Comecemos pelo Sol...

O sol tão mortal aos vampiros, significa vida para todo o planeta Terra. Mas esse é o papel do Sol e nós? Nós saímos e ficamos horas debaixo do Sol para ficarmos queimados (obviamente em menor proporção que aos vampiros). Igualmente podemos morrer ao Sol, nos vampiros isso é instantâneo, em nós pode ser um câncer de pele ou outras patologias ligadas ao astro-rei.

A sede...

Os vampiros precisam beber sangue para sobreviver, o que os caracteriza como assassinos que indiferem amigos de inimigos, tudo que importa é saciar sua sede. Com os seres humanos esse elemento apresenta diversas variáveis, mas quando a "sede" vem, é igualmente avassaladora. Consideremos como exemplo uma mulher, que tem o hábito de comer 3 barras de chocolate sempre que termina um relacionamento. Se essa mesma mulher, terminar um relacionamento hoje e não tiver o chocolate nas mãos amanhã ela provavelmente roubará um banco para conseguir dinheiro pro bendito chocolate.

Vida noturna...

Os vampiros são seres noturnos por excelência. Faz parte da maldição deles. Além de não poder sair a luz do Sol (isso mesmo, eles não brilham ,Stephenie Meyer, eles morrem!) eles são privados de viver estas horas. Ao nascer o Sol os vampiros mergulham num sono profundo que só termina quando o astro-rei se deita. Há inclusive uma teoria religiosa que afirma ser o dia dos anjos e a noite dos demônios. Pois bem, e o que todo ser humano normal faz? Fica em cima do muro. Vive de dia e de noite, mas qual a diferença dessas "vidas"? De dia se trabalha (se sofre) assim como os vampiros, enquanto a noite é a hora para diversão. Claro que existem as pessoas que trabalham à noite, mas essas, como os vampiros, dormem o que precisam e o que não precisam durante o dia.

Focando nas diferenças, podemos ver que os vampiros não ficam doentes, se regeneram mediante qualquer ferimento não-fatal e são dotados de habilidades sobre-humanas em todos os campos (acadêmico, físico e psicológico). Possuem a pele pálida (se confundindo à uma conde/condessa europeu ou a uma perua cheia de pó de arroz) e presas pontiagudas. Aproveitando que falamos em dentes, está aí outro ponto positivo, nunca vi vampiro de aparelho. E a habilidade mais marcante de qualquer vampiro: o poder de sedução. Vamos imaginar um vampiro que só anda de calça creme meio surrada e uma camisa branca de igual estado. Adicionemos nesse vampiro aquele cabelinho de lado, com uns fiapos escapando para a testa, sexy como um estudante de física nuclear com CR 9.7. E pra finalizar vamos imaginar este ser baixinho, e com mãos extremamente pequenas. Este corpo estranho entraria facilmente em um ambiente e sairia com a Viviane Araújo de um lado e a Grazi Massafera de outro.Resumindo a história, temos nossas semelhanças aos vampiros. E quanto as diferenças?Bem... só perdemos as coisas legais...