Voltava do trabalho quando tive uma epifania em pleno sistema de transporte público (que não sei o porquê desse nome já que o mesmo é privado). Estagnado em meio a um mar de luzes vermelhas e gritos mecânicos pensei em simplesmente fazer um balanço do meu dia. Para o meu espanto a resposta não foi imediata. Na rotina de estudar, trabalhar e praticar a inútil atividade de estágio, a divisão de dias ficou nebulosa. Ofuscada pela rotina, sendo a data lembrada pelo simples fato de ter que escrevê-la todos os dias no quadro.
Estudar é bom? Sim. Trabalhar é bom? Ótimo! Mas às vezes parece que não se vive para progredir, e sim se progride para viver. Senti-me como se tivesse entrado em uma espécie de “modo automático” do qual receio não poder sair quando quiser. Antes de tomar o ônibus para casa, parei por menos de dez minutos em uma lanchonete com minha namorada para comer uma Girela de quatro queijos. Não sabe o que é? Tire um dia para sair do arroz e feijão e experimente! Eu recomendo! Pode parecer bobagem, mas aqueles dez minutos, aquela Girela, aquelas risadas e aquele beijo de despedida foram, de longe, a melhor parte do meu dia. A parte do meu dia na qual eu me senti mais vivo. Produzindo vida e não reproduzindo rotina.
Eu sei que esse texto foge aos padrões líricos cujos quais tento manter nos posts do blog (por vezes não tão líricos e não tão padronizados), mas eu tenho um grito dentro de mim que precisa ser ouvido: Coma uma Girela! Fuja da rotina. Pode soar trivial, mas, no fim do dia, são essas escapadas que formarão sorrisos.
Alguns reclamam que o Brasil tem muitos feriados, mas dou graças a Deus! Com o sistema quase que escravitário imposto à classe proletariada brasileira os feriados agem como uma válvula de escape (deixo explícito nessa parte que não tenho do que me queixar, não trabalho 12 horas por dia para ganhar 500 reais e sustentar uma família de cinco pessoas). Escape do trabalho, da rotina. Uma chamada para um churrasco na casa dos parentes, ou de um filme
Uma vez vi em um comercial um dos poemas que mais gostei na vida, por sua genialidade, ritmo e profundidade. Esse poema é como a rotina, se lermos rápido, coisas passarão despercebidas. Se lermos devagar ele perde o ritmo e, assim, ficamos para trás. Em um mundo que vive sempre acima do limite de velocidade permitido, sempre atrasado, sempre cansado, a rotina da felicidade não pode ser outra senão a sexta-feira. Eis o poema, com algumas modificações deste que voz fala que, quando não dragado pela rotina, gosta de brincar de tentar ser escritor.
Rotina...
A idéia é a rotina do papel.
O céu é a rotina do edifício.
O inicio é a rotina do final.
A escolha é a rotina do gosto.
A rotina do espelho é o oposto.
A rotina do perfume é a lembrança.
O pé é a rotina da dança.
A rotina da garganta é o rock.
A rotina da mão é o toque.
Julieta é a rotina do queijo.
A rotina da boca é o desejo.
O vento é a rotina do assobio.
A rotina da pele é o arrepio.
A rotina do caminho é a direção
A rotina do destino é a certeza.
E é em fugir da rotina que mora a felicidade,
Que dá à vida beleza.