Gustavo estava atordoado. Nunca havia se sentido desse jeito antes. Sem ar, sem fala, sem ela. Helena parecia, à primeira vista, uma garota como outra qualquer que Gustavo conheceu em uma festa. Com o decorrer do tempo e das conversas as coisas em comum entre os dois chegavam a irritar aos que assistiam de fora. Os mesmos filmes, os mesmos sonhos, as mesmas viagens, os mesmos pratos, o mesmo desejo: que a Inglaterra e o Brasil fossem vizinhos.
Helena viera com os pais passar uma semana no Brasil e, assim, conhecera Gustavo. Ele pensava nela dezesseis horas por dia, nas outras sonhava. Seu sorriso hipnotizante, seus olhos de mar, suas curvas magníficas, seu coração. De todos os itens este era o mais cobiçado.
Todos os dias antes de ligar pensava que estavam a um telefonema de suas necessidades. Todos os dias depois de ligar percebia que estavam um degrau acima na saudade. O par perfeito existia, pensou, só não estava no lugar perfeito. Não estava ao seu lado.
“Estou pensando em viajar para a Europa”, Gustavo ouviu sua tia falar “morro de vontade de conhecer e, afinal, não é tão longe”. As palavras ecoaram fagulhas de esperança. A Europa não é tão longe. Gabriel juntou parte do seu salário de assistente de escritório e, em três meses, estava com a passagem em mãos rumo ao English Landscape Park, onde iriam se encontrar.
Três horas após o combinado, Gustavo, num misto de dúvidas e revolta, decide ir embora e dar um fim a essa história. Onde estava com a cabeça? Já havia escutado sobre relacionamentos à distância bem sucedidos, mas isso era ridículo. Levantou-se e começou a caminhar, perguntando-se o porque da omissão. O amor virou algo. Não ódio. Definitivamente não. Algo indescritivelmente perturbador e perfurante.
Mergulhado em decepção, Gustavo é despertado por um chamado. Quem seria a mulher que corria sofregamente em sua direção? A mulher morena de média estatura pediu uns segundos para recuperar o fôlego. Chamava-se Maria. Trazia uma rosa vermelha e um bilhete nas mãos. “Desculpe”, dizia o bilhete. Não eram necessárias mais palavras. Havia entendido. Uma lágrima brotou em cada olho. A estranha o afagou como se também guardasse ela mesma uma cicatriz de ferimento semelhante. “Café?”, disse Maria. Como ela sabia que café sempre o acalmava?
No Café, conversavam sobre tudo em um tom relativamente descontraído, na medida do possível. Maria era amiga de Helena e nada além disso foi dito. Outras coisas foram ditas. Histórias foram contadas. Assim como as coincidências, afinal, quantas pessoas no mundo sonham em ser astrônomas para ficar mais perto das estrelas? Quantas pessoas no mundo sonham e visitar Madagascar só porque assistiram ao filme? Quantas pessoas no mundo se conhecem em Londres, sobre tais circunstâncias, e se apaixonam?
Hoje Gustavo e Maria são casados. Encontraram um no outro A Felicidade de que tanto ouviam falar e liam nos livros. Era sempre primavera