quarta-feira, 16 de junho de 2010

Ao escritor...

            Minha tia me perguntou uma vez como fazer pra “escrever melhor”. Como? Também não sei. Tem a leitura que ajuda bastante na parte de ortografia e vocabulário, mas isso é escrever? Se fosse, o livro mais vendido no mundo seria o Aurélio e afins, e todo mundo ia ter um jogo Soletrando em casa. Escrever bem remete imediatamente a uma questão: o que seria um bom texto? Um bom texto seria um que te faz rir? Um que te faça chorar? Um que acabe com a sua vida ou um que a renove? Na minha opinião todos! Cada texto tem o seu momento e, é claro, o seu escritor. Como pode alguém que nunca sentiu ou viveu uma grande paixão escrever uma história de amor tão linda quanto flor de cerejeira em meados de primavera? Tem a parte do fingir, mas fingir é sonhar e, venhamos e convenhamos, para nós, escritores, sonhar é ser! Entretanto, cada escritor tem o seu perfil, por mais versátil que seja, então eu lhe pergunto:

 

- Como você escreve? Com esmero ou com desleixo? Com inspiração ou transpiração? Com certezas ou com dúvidas? Com a mão ou com o coração? Com a caneta ou com a pena? Com o sócio ou com o sujeito? Com ou sem?

 

- Por que você escreve? Para causar uma impressão? Para gerar uma reação? Para esclarecer? Para confundir? Para minar? Para trair? Para jogar? Para iludir? Pra tudo disso ao mesmo tempo? Ou pra nada disso, dependendo do momento?

 

- Quem escolhe o seu texto: você ou o momento? Você escreve, revisa, joga a bolinha de papel no lixo e depois escreve a mesma coisa? Você sente e escreve ou escreve e ressente?

 

- Pra que você escreve? Para passar uma mensagem? Para cantar de escritor ou para escrever cantando? Para mostrar que sabe fazer trocadilhos? Para se sentir bem? Para fazer os outros se sentirem bem? Para desabrochar a literatura em botão dentro de você?

 

            Uma vez me perguntei por que eu posto textos, como este, no blog. Sempre dá vontade de parar de escrever quando o texto está na metade porque eu sinto que nunca está bom. Mas posto porque escrevo e escrevo porque gosto! Sou mesmo assim! Escrevo com o coração, seja para causar uma impressão, ação ou reação. Gosto de iludir, de intrigar, de divertir, de fazer chorar e sorrir a quem dedica um pouco de seu precioso tempo e lê os textos do meu blog. Posto o que escrevo porque é o que eu tenho. Não tenho a capacidade de escrever um Lusíadas ou um Memórias Póstumas de Brás Cubas a cada dia. Escrevo o que me cabe. O que vivo, o que sinto e o que sou. Agora, acima de tudo, escrevo para convidar. Como você, amigo blogueiro que me lê, escreve? Qual o seu estilo? Li uma vez em um artigo de uma revista de antropologia (essas coisas que a gente ganha em congresso e lê no meio de uma palestra chata) que o que o homem escreve o define enquanto tal. Então, meus caros, definam-se....

 

 

quarta-feira, 26 de maio de 2010

The Swan Song


* This post was inspired on the last episode of the fifth season of the TV series Supernatural.

He had the key to cheat death in his hands. Everything was planned and such a plan was fail-proof or at least he thought so. It was an ordinary day when it happened. Not so long ago Hamlet was walking through a pizza place in Chicago. All of the sudden he decided to enter the restaurant. He was not hungry. He just knew he had to go inside.

It was a simple but yet charming place. There were a few people in the place but strangely they were sleeping. There was only this man with his serene attitude eating a pizza.

-- Hamlet – he said calmly but yet firm – have a seat.

He felt like entrapped in a cold atmosphere which, he had no doubt, was created by the strange figure dressed in black. Like compelled by an invisible force he headed to the man’s table. He sat. That was the moment to put his strategy into practice. He knew who the man was. No introductions were necessary. He took a deep breath but before Hamlet could say a word the man dressed in black read his eager eyes and said:

-- You overestimate the sense of your importance. To a thing like me a thing like you… well… think how you would feel if a bacteria sat on your table and started to get snuck. This is one little planet in one tiny solar system, in a galaxy that is barely out of its diapers. I am old. Very old. So I invite you to contemplate how insignificant I find you.

-- I gotta ask; how old are you? – said Hamlet in a uncontrollable wave of curiosity.

-- As old as God. Maybe older. Neither of us can remember anymore. Regardless at the end I will reap Him too.

-- God? You are saying that you are going to reap God?

-- Sure. As I ripped many others before him. Greek, Celtic, Christian. Their fate take a longer road but its end is the same: me.

-- So why am I still breathing? Sitting here with you…

-- I have acknowledged that you have a plan to deceive me. I would like you to tell me this move of yours. If you can convince me you will live as long as you can bare listening to your pitiful heartbeats.

Hamlet was surprised with such a haste but nothing less could be expected from Him. Silence. For almost three minutes both figures just sat one in front of the other without saying one single word, then He questioned:

-- What would you do if I said that today is going to be your last sunset over this world?

-- If today was my last day – started Hamlet plainly nervous, stuttering in his ready speech – and tomorrow was too late I would say goodbye to yesterday. I would live each moment like my last. I would forgive my enemies… - Death stared at him as only eyes of a particular blue shade can stare… bold… glassy… - Oh, fuck it! I am no martir. All I can think about is how much I am gonna miss this life.

-- What are you afraid of?

-- I am afraid of the unknown… of how long death is going to take and if there is a way out of it. I rather believe that death is just a transition until reincarnation happens to me and then I come back to this world which is the only I remember knowing.

-- You are not alone. Lots throughout history thought they would be smart enough to cheat me. There is always a dreamer who thinks that there is a place for them in a movie song. What they can not see is that there is no song or movie. In the end there is only silence.

As they talked Hamlet felt it was getting harder and harder to breathe. He could barely hear the sounds beyond the man's voice. He thought about his house, his friends, his work. Nothing really mattered now. He wanted to believe he was going to miss all of this but he just didn’t feel like it. He wished to cry, to insist, but the truth was that there was no pain. There was nothing. Just a voice.

Endings are hard. Any monkey can pop up a beginning but endings are impossible. You try to tie every loose end but you never can and since it is the ending it is always supposed to mean something but it is all bullshit. The most meaningful things do not have an explanation.

Before taking his last deep breath Hamlet thought: “Who would say… readiness is indeed all”.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Automatismo castrador

Voltava do trabalho quando tive uma epifania em pleno sistema de transporte público (que não sei o porquê desse nome já que o mesmo é privado). Estagnado em meio a um mar de luzes vermelhas e gritos mecânicos pensei em simplesmente fazer um balanço do meu dia. Para o meu espanto a resposta não foi imediata. Na rotina de estudar, trabalhar e praticar a inútil atividade de estágio, a divisão de dias ficou nebulosa. Ofuscada pela rotina, sendo a data lembrada pelo simples fato de ter que escrevê-la todos os dias no quadro.

Estudar é bom? Sim. Trabalhar é bom? Ótimo! Mas às vezes parece que não se vive para progredir, e sim se progride para viver. Senti-me como se tivesse entrado em uma espécie de “modo automático” do qual receio não poder sair quando quiser. Antes de tomar o ônibus para casa, parei por menos de dez minutos em uma lanchonete com minha namorada para comer uma Girela de quatro queijos. Não sabe o que é? Tire um dia para sair do arroz e feijão e experimente! Eu recomendo! Pode parecer bobagem, mas aqueles dez minutos, aquela Girela, aquelas risadas e aquele beijo de despedida foram, de longe, a melhor parte do meu dia. A parte do meu dia na qual eu me senti mais vivo. Produzindo vida e não reproduzindo rotina.

Eu sei que esse texto foge aos padrões líricos cujos quais tento manter nos posts do blog (por vezes não tão líricos e não tão padronizados), mas eu tenho um grito dentro de mim que precisa ser ouvido: Coma uma Girela! Fuja da rotina. Pode soar trivial, mas, no fim do dia, são essas escapadas que formarão sorrisos.

Alguns reclamam que o Brasil tem muitos feriados, mas dou graças a Deus! Com o sistema quase que escravitário imposto à classe proletariada brasileira os feriados agem como uma válvula de escape (deixo explícito nessa parte que não tenho do que me queixar, não trabalho 12 horas por dia para ganhar 500 reais e sustentar uma família de cinco pessoas). Escape do trabalho, da rotina. Uma chamada para um churrasco na casa dos parentes, ou de um filme em casa. Uma curva nessa estrada onde o limite de velocidade é sempre medido pelo mínimo de 100 km/h. Uma chance de admirar a beleza do mundo.

Uma vez vi em um comercial um dos poemas que mais gostei na vida, por sua genialidade, ritmo e profundidade. Esse poema é como a rotina, se lermos rápido, coisas passarão despercebidas. Se lermos devagar ele perde o ritmo e, assim, ficamos para trás. Em um mundo que vive sempre acima do limite de velocidade permitido, sempre atrasado, sempre cansado, a rotina da felicidade não pode ser outra senão a sexta-feira. Eis o poema, com algumas modificações deste que voz fala que, quando não dragado pela rotina, gosta de brincar de tentar ser escritor.

Rotina...

A idéia é a rotina do papel.

O céu é a rotina do edifício.

O inicio é a rotina do final.

A escolha é a rotina do gosto.

A rotina do espelho é o oposto.

A rotina do perfume é a lembrança.

O pé é a rotina da dança.

A rotina da garganta é o rock.

A rotina da mão é o toque.

Julieta é a rotina do queijo.

A rotina da boca é o desejo.

O vento é a rotina do assobio.

A rotina da pele é o arrepio.

A rotina do caminho é a direção

A rotina do destino é a certeza.

E é em fugir da rotina que mora a felicidade,

Que dá à vida beleza.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

The Corner

Everybody has a great obstacle to overcome. Some people climb a mountain, others find in life the great obstacle itself. I’m before my Everest right now. And I am only seven! It must be some kind of record!

It seems I am lost and for… I don’t know how long, I have been walking through straight lines. But the road is over and now here I am, before a corner.

Sometimes I try to look back but my memories seem to blur. I remember going out to school at 6:30 a.m. as usual. My mom used to prepare me breakfast. Snow Flakes! Gosh, how I love that woman! Daddy said once that the break dawn followed by the spark of her eyes and the tender kisses were the best thing. I didn’t get it. I prefer Snow Flakes. I used to have this glimpse of heaven everyday. If only I knew where she is. If only I knew exactly where I am. Please, help me!

I could tell you more about the place in which I am, but it wouldn't help……. OK. I'm on an ordinary corner. I'm sheltered from nothing but the weather. There's absolutely nobody here. Sometimes I see some people passing by but they seem to be too far from me. Maybe I got this impression because of the fog. There is nothing beyond that, just the way back and the corner. I know what you're thinking. I should move on, but it is kind of hard when you don't know where you're going. What if I can't come back?

Are you gonna be this quiet? If so we can finish this conversation right now! Can’t you see I’m desperate? I’m falling and I don’t remember jumping. As I told you I remember noth….. wait! I was on the street, on the bus stop. Did the bus bring me here? I remember there was somebody yawning. I remember the annoying car horns. A woman with a cup of decaf cappuccino (Dad’s favorite). For some reason the world started spinning faster. After that I felt something warm going down my forehead. Probably the woman spilled coffee on me. Why don’t all people have Snow Flakes? If so the coffee accidents wouldn’t happen. But we are losing it, let’s get back to the point. Do you think I should take the corner?

I have an idea, what if you come with me? We never get lost when we are with friends. Besides, people know that grown ups never allow bad people to approach kids. What? Don’t tell me you are scared. Don’t be such a baby, I’ll take care of you. Look, when I was just a kid, like five and a half, there was this star I used to wish on. My mom told me that the star is Grandpa and he is protecting us from his house in Heaven. I remember this one time when I broke a mirror at home but I couldn’t wish on Grandpa’s protection because it was 4 p.m. It is funny how it all just seems like yesterday. Don’t tell anyone, I know we are supposed to be brave, but I wish on Grandpa every night. He protects me, I know he does.

Ok. That’s it. I’m taking the corner. Nothing is getting any clearer. Now you can’t change my mind. Maybe somebody after the corner knows where Mom is. She told me that I don’t have to be afraid of new places. Like my new school. She said that faces change but names are familiar. I know lots of names! Mom, Dad and Snow Flakes! Of course I know other names! But these are the ones I will be looking for.

For how long have we been talking? Things are different now. As I stare out this dirty window, things slowly pass by. Somewhere out there is the future that I once thought had passed me by. I’d better be going. I liked you! We will meet again, right? Promise? Ok then. See you later alligator.

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“If today was your last day and tomorrow was too late would you say good bye to yesterday?”

Chad Kroeger

sábado, 20 de março de 2010

Soulmate

Gustavo estava atordoado. Nunca havia se sentido desse jeito antes. Sem ar, sem fala, sem ela. Helena parecia, à primeira vista, uma garota como outra qualquer que Gustavo conheceu em uma festa. Com o decorrer do tempo e das conversas as coisas em comum entre os dois chegavam a irritar aos que assistiam de fora. Os mesmos filmes, os mesmos sonhos, as mesmas viagens, os mesmos pratos, o mesmo desejo: que a Inglaterra e o Brasil fossem vizinhos.

            Helena viera com os pais passar uma semana no Brasil e, assim, conhecera Gustavo. Ele pensava nela dezesseis horas por dia, nas outras sonhava. Seu sorriso hipnotizante, seus olhos de mar, suas curvas magníficas, seu coração. De todos os itens este era o mais cobiçado.

            Todos os dias antes de ligar pensava que estavam a um telefonema de suas necessidades. Todos os dias depois de ligar percebia que estavam um degrau acima na saudade. O par perfeito existia, pensou, só não estava no lugar perfeito. Não estava ao seu lado.

            “Estou pensando em viajar para a Europa”, Gustavo ouviu sua tia falar “morro de vontade de conhecer e, afinal, não é tão longe”. As palavras ecoaram fagulhas de esperança. A Europa não é tão longe. Gabriel juntou parte do seu salário de assistente de escritório e, em três meses, estava com a passagem em mãos rumo ao English Landscape Park, onde iriam se encontrar.

            Três horas após o combinado, Gustavo, num misto de dúvidas e revolta, decide ir embora e dar um fim a essa história. Onde estava com a cabeça? Já havia escutado sobre relacionamentos à distância bem sucedidos, mas isso era ridículo. Levantou-se e começou a caminhar, perguntando-se o porque da omissão. O amor virou algo. Não ódio. Definitivamente não. Algo indescritivelmente perturbador e perfurante.

            Mergulhado em decepção, Gustavo é despertado por um chamado. Quem seria a mulher que corria sofregamente em sua direção? A mulher morena de média estatura pediu uns segundos para recuperar o fôlego. Chamava-se Maria. Trazia uma rosa vermelha e um bilhete nas mãos. “Desculpe”, dizia o bilhete. Não eram necessárias mais palavras. Havia entendido. Uma lágrima brotou em cada olho. A estranha o afagou como se também guardasse ela mesma uma cicatriz de ferimento semelhante. “Café?”, disse Maria. Como ela sabia que café sempre o acalmava?

            No Café, conversavam sobre tudo em um tom relativamente descontraído, na medida do possível. Maria era amiga de Helena e nada além disso foi dito. Outras coisas foram ditas. Histórias foram contadas. Assim como as coincidências, afinal, quantas pessoas no mundo sonham em ser astrônomas para ficar mais perto das estrelas? Quantas pessoas no mundo sonham e visitar Madagascar só porque assistiram ao filme? Quantas pessoas no mundo se conhecem em Londres, sobre tais circunstâncias, e se apaixonam?

            Hoje Gustavo e Maria são casados. Encontraram um no outro A Felicidade de que tanto ouviam falar e liam nos livros. Era sempre primavera em Londres. Ele vê nela abrigo, a mão a qual ele deve segurar com o passar do tempo. Ela vê nele o mundo, o que ela mais gosta nela mesma. Gustavo às vezes se pergunta o que teria acontecido se Helena, a mulher que ele acreditava ser a sua alma gêmea, tivesse ido ao parque naquela tarde. Maria se pergunta o que teria acontecido se não tivesse espionado as conversas da amiga com Gustavo. Pergunta-se o que seria de sua felicidade se ela não tivesse sabotado aquele encontro. Se não acreditasse em alma gêmea...